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tecnologias educativas e novos modos – pedagogia da máquina

As crises trazem consequências muito diferentes em todos os campos, porque as pessoas reagem a elas de formas bastante diferentes.

São Paulo, 16/07 de 2020.

José Moran

Alguns aprendem rapidamente, experimentam, enxergam novas oportunidades (modificam sua mentalidade mais profundamente); outros desenvolvem algumas competências digitais, práticas diferentes e fazem só alguns ajustes no seu modelo mental e de vida (realizam mudanças parciais).

Um terceiro grupo de pessoas permanecem na defensiva, só enxergando perdas e problemas (e só mudam tardiamente e a contragosto). As transformações que virão serão fortes, mas com consequências muito diferentes para os diferentes grupos.

Uns sairão fortalecidos, com mais ideias para porem em prática novas competências, visões, oportunidades. A maioria vai fazer ajustes, incorporar algumas práticas digitais, e terão que avançar mais rapidamente forçados pelas circunstâncias de empobrecimento, pela atratividade das propostas dos novos concorrentes.

Um terceiro grupo resistirá o máximo que puder, tentando implementar mudanças mais cosméticas, de marketing, sem mexer no modelo convencional, porque isso atende a uma parte da sociedade que é bastante conservadora.

Algumas aprendizagens principais na Educação

Fomos empurrados abruptamente para o digital e percebemos que podemos replicar a maior parte das atividades da nossa vida em diferentes plataformas e aplicativos: Comunicarmos, comprar, ensinar, aprender, trabalhar remotamente, fazer consultas médicas, tomar decisões colegiadas em diversas instâncias.

O confinamento aguçou nosso olhar para a educação como encontro vivo entre pessoas – todos os envolvidos – que desenvolvem competências cognitivas, socioemocionais e éticas.

Mostrou a importância da empatia, da resiliência, do acolhimento, da escuta ativa, do estabelecimento de vínculos, do   saberes, da flexibilidade para entender que a situação e necessidades de cada um são diferentes.

Muitos perceberam a fragilidade da vida, a importância do afeto, de valorizar-se, de desenvolver projetos interessantes, de gostar de aprender e de viver de forma mais simples.

Em relação às arquiteturas didáticas, enquanto alguns só fizeram transposições de aulas presenciais para ambientes digitais – focadas mais na fala do professor – muitos outros aprenderam a combinar dinâmicas diferentes: aulas gravadas, ao vivo, com dinâmicas individuais e outras bem participativas, que antes não lhes eram familiares no digital (trabalho em grupos simultâneos, desenvolvimento de projetos, metodologias ágeis) com apresentação e discussão de resultados e novas sínteses.

Muitos estudantes se perguntam agora, porque precisam dirigir-se todos os dias a uma sala de aula para ouvir um professor, gastando tanto tempo se podem fazer as mesmas atividades online. Muitos docentes também se fazem perguntas semelhantes: Precisamos estar fisicamente juntos para aprender e quando é mais vantajoso fazê-lo de um jeito ou de outro?

Os gestores, diante do empobrecimento da população e da acirrada concorrência, também se perguntam: numa época de empobrecimento, como trazer uma educação moderna, ágil, com custos menores sem diminuir a qualidade?

Algumas aprendizagens mais específicas: Pessoas, escolas e universidades foram desafiadas a adaptar-se rapidamente, a planejar de forma rápida, mais compartilhada, com experimentação e avaliação contínuas dos processos.

Isso trouxe uma aceleração do domínio de competências digitais e de plataformas e aplicativos para ensinar e aprender, grande compartilhamento de práticas e de descoberta, novas formas de comunicação e de avaliação.

Cada instituição ou sistema, privado e público, procurou, dentro da sua realidade, encontrar o caminho que lhe pareceu mais adequado.

O ineditismo do confinamento tão longo, causou intenso estresse em todos, mas permitiu experimentar diversas soluções para a comunicação frequente com alunos e famílias, manter da melhor forma a dinâmica do ensino e aprendizagem.

Há uma explosão de eventos ao vivo online, para compartilhar ideias, experiências, problemas. Temos aulas transmitidas ao vivo, outras gravadas com atividades e muitos arranjos tecnológicos, pedagógicos e gerenciais.

Estratégias diferentes de comunicação com alunos, pais, entre professores. Confirmamos que as aulas têm que ser experiências desafiadoras, surpreendentes, ricas de questões vinculadas com a vida e de aplicações, seja no presencial ou no online, com professores inspiradores e com intenso envolvimento dos estudantes.

O contato com cada professor tem que trazer a riqueza da vida, o encontro de personalidades que se completam. O docente precisa ser um grande provocador, interlocutor, orientador de pesquisa e caminhos, de abertura de novas trilhas e desafios.

Cresceu a Importância dos modelos híbridos, da aula invertida com materiais interessantes, em que cada aluno estuda em tempos diferentes, depois realiza desafios individuais e em grupo de aplicação mais imediata, utilizando diversas plataformas digitais, com momentos offline combinados com outros online para apresentação, discussão online e formas mais imediatas de avaliação.

Infelizmente muitos aprenderam a utilização mais simplista e tradicional da aula invertida: Muito conteúdo e atividades pouco desafiadoras nos momentos online.

Constatamos também alguns avanços no domínio das metodologias ativas no online, trabalhos por projetos, por design thinking, jogos, times, no meio de muitas escolas que simplesmente transpuseram modelos presenciais para o online, gerando bastante desinteresse.

Ficou bem escancarada a tremenda desigualdade social: infraestrutura, condições de acesso, condições de estudo, econômicas, emocionais e a engenhosidade de muitas escolas, universidades, prefeituras e estados para oferecer alternativas para a maioria.

Algumas mudanças mais previsíveis

Período forte de ajustes em todos os campos pelo empobrecimento de boa parte da população, pelas graves tensões políticas, pela necessidade de baixar custos, de oferecer um serviço educacional que faça sentido para os diversos tipos de estudantes, buscar novas receitas, oferecendo novos serviços. 

Modelos de gestão e acadêmicos mais enxutos, personalizados, economia de escala, incorporação ampla do digital. Mudanças na forma de ensinar.

Muitas ofertas e oportunidades de aprender: nano cursos, certificações diferenciadas, plataformas adaptativas com inteligência artificial (que podem auxiliar enormemente na personalização da aprendizagem).

Vantagens das Instituições que avançaram na gestão, currículos mais integrados, personalizados e flexíveis e fortemente digitais, focados em competências. Haverá um intenso crescimento de modelos ativos híbridos (entendo as muitas possibilidades e dimensões desse conceito).

Assim como todos os setores econômicos estão oferecendo serviços mais integrados, também o setor educacional oferecerá propostas muito mais flexíveis, personalizadas e abertas.

Uma boa parte das instituições será empurrada para o híbrido pela necessidade de cortar custos e de enfrentar uma concorrência acirrada, mas o fará de forma simplista: focando mais em conteúdo do que em desafios; e manterão os docentes mais baratos e que realizem atividades mais convencionais.

Crianças pequenas continuarão precisando de muito acompanhamento e interação presenciais. Já os demais estudantes encontrarão muito mais significado em currículos mais personalizados (trilhas diferenciadas), desafios e projetos engajadores, alternar tempos pessoais, experiências em grupo e alguns espaços para mentoria.  

Escolas e universidades farão essas transformações em ritmos diferentes. Haverá novas parcerias para diluição de custos, enfrentar a concorrência, seguir a onda de fusões. Haverá um enxugamento de cargos administrativos e docentes no curto prazo.

As instituições mais sérias manterão os melhores docentes; as mais comerciais trocarão os docentes mais experientes por docentes com pouca experiência e baixos salários.

Haverá um crescimento de parcerias entre instituições, de diferentes formas de colaboração, de atuação em redes mais ativas, assim como aumentarão as fusões para evitar a quebra de instituições menores.

Como a Educação é o setor mais estratégico para a transformação de qualquer país e ela se estende ao longo da vida de todas as pessoas, haverá cada vez mais oportunidades para profissionais, organizações de explorar novos mercados, desenvolver propostas adequadas para as necessidades de cada um, de cada organização, realizar múltiplas parcerias com todos os setores econômicos e sociais.

O grande problema de fundo do país é a desigualdade brutal e a diferença de oportunidades reais transformadoras para a maioria da população. Corremos seriamente o risco de continuar aprofundando o fosso entre instituições interessantes –mesmo com modelos diferentes – e muitas outras que vão ficando para trás, com muita dificuldade de sair da transmissão de conteúdo, exercícios e provas com consequências devastadoras para o futuro dos jovens do país.

José Moran – Educador, fundador da Escola do Futuro – USP – Pesquisador de processos de transformação das Pessoas, Escolas e Universidades  Educação Transformadora

Tecnologia é bom, mas é só a ferramenta!

“O espírito é o produto superior da matéria” (F. Engels)

O encantamento com a informática vem desde meados de 1995, quando montamos a AS – Hard and SoftwareHouse – Eu Jornalista acabara de fechar a Folha Regional Norte, chateado por fracassar em um jornal de bairro.

Adhemar era administrador de empresas e Tomás, que não tinha diploma superior, era dono do espaço físico, uma salão atrás de um bar arrumadinho demais para o lugar, mas que antes fora, inclusive, a marcenaria dele. Eu era absolutamente ignorante no assunto (e, confesso, continuo atrevido, no máximo).

Adhemar, o único que entendia era programador na linguagem Cobol e estava avançando em outras linguagens. Trouxe consigo, além da experiência, a ideia de retomar antigos clientes com uma reformulação radical nos sistemas que para eles havia desenvolvido e implantado.

Chegou até nós com uma celular, e um lap top que tirou de dentro de seu Honda sport. Pediu um chope, e deixou-me impressionado, mais pelos equipamentos do que pelo carro, que claro, era bem legal, naquela época. Depois apareceu com uma motocicleta Honda 1000 cilindradas. Fiquei convencido. Informática era o negócio! Mas, era caro…

Só tenho minha mão de obra, o que sei fazer, e a minha vontade de aprender!” Adhemar gostou. Então tá, ele disse: “Legal, você vai escrever o manual do novo sistema que estou programando para os técnicos e os diretores das empresas. Quando eu terminar o programa, você ganha o computador que vou comprar para que possa executar o serviço! Primeiro vai ter de aprender a usara máquina!”

E me convidou para irmos até uma empresa que importava os componentes e montava as máquinas. Saí de lá com um incrível 486 com 4 Mega de memória, uma placa de modem 14 kbps, um teclado, um mouse e um monitor de 14 polegadas.

“Mundo, prepare-se!”

Escrevi o manual enquanto aprendi a usar o computador. Fui o primeiro a ter um na família. Adhemar me levava em alguns clientes – Ind. de papel Independência, GessyLever, Aerolíneas Argentinas, Trattoria di Lucca, enfim, empresas de médio e grande portes. Aquilo me animou e cheguei a ganhar algum dinheiro além da máquina, e até comprei uma impressora. Em seguida meus irmãos partiram pra luta, um fez curso de hardware e outro entrou no mundo da programação.

Nenhum foi pra frente de verdade. Éramos curiosos, dispostos, aguerridos, mas aqui no Brasil, e em São Paulo, só isso não basta. É preciso frequentar os lugares certos, com as pessoas certas, os círculos mais cheios de recursos. Não tínhamos nem roupas para aquilo!

Mas, cada um tirou o que pode do aprendizado, fruto de muito atrevimento e buscas. Um dos rapazes montou uma empresa e até avançou com alguns clientes, nas montagens de computadores e redes, físicas e lógicas (embora estas últimas fossem bem básicas; suficientes, eu diria para a época e para aquele nível de clientes).

Carregava cabos, fios, peças, alicates especiais e logo amontoou uma pilha de equipamentos velhos, para trocar peças, consertar, uma oficina mecânica… Péssimo comerciante, mas se tornou um bom profissional de redes lógicas e usuário avançado em configuração de máquinas e plataformas de trabalho. Se virava paralelamente a sua grande paixão – a Música – Mestrado na USP, composições, peças de violão, dissertações, estudos, partituras etc…

Chegou a fazer uma tradução de um software de Música chamado Finale para a língua portuguesa. Um negócio complexo, bonito, feito para músicos profissionais, orquestras etc…O usuário experiente escreve a partitura, ritmo, harmonias, timbres etc, escolhe os instrumentos, clica nos comandos, aperta uns botão e pimba: as folhas saiam impressas e um mp3 toca o resultado: obras primas! Vive no Canadá com a família!

Arte, conhecimento e tecnologia - estruturas da civilização humana!

Outro adentrou na “linguagem” html e criação de sites, designer, cartazes, folders, revistas etc… Os clientes pediam e ele executava: gráficas, agências, restaurantes, se virava enquanto paralelamente avançava no conhecimento de sua grande paixão: a Música. Ambos tocaram muito por aí, em bares, teatros, estúdios, festivais e montaram grupos musicais muito bons, além de fazerem parte de outros.

Tarancón, Mulheres Negras, Terra Mestiça, Rede Globo, Tv Cultura, foram as travessias do caminho mas, assim como na informática, no Brasil e em São Paulo, não é só qualidade e conhecimento que conta. Você tem de conhecer as pessoas certas, frequentar os lugares certos, os círculos mais prenhes de recursos. E ficar muito atento com a maldade, o instinto de sobrevivência e o egoísmo de muita gente. Atualmente, está concluindo um doutorado em Educação Musical em Sta Catarina, com a família!

Bom, eu virei mesmo um jornalista, um Publisher depois de frequentar muitos círculos políticos, culturais, empresariais, e decidir fazer o que sempre gostei – escrever e publicar – mas, o papel se tornou antiecológico, portanto, assumiu um quê de criminoso ou cruel usa-lo para fins menos nobres. Daí que restrito fica, na minha concepção, para ser utilizado em pequenos livros e em umas revistas sazonais, com o melhor que posso apurar em termos de textos sobre Educação, Cultura e Sociedade – algo que gosto muito. Tanto quanto meus irmãos gostam de Música.

Um projeto que deu certo!

Mais de 2 centenas de colaboradores em todo o mundo! Escrevendo textos e artigos, acadêmicos ou não, engrandecem o projeto enviando vídeos, podcasts, imagens, compartilhando seus conhecimentos em defesa de princípios democráticos, republicanos, de liberdade de expressão, pensamento progressista e de respeito às diferenças e do estado de direito, de cultura e da arte.

Acadêmicos e intelectuais, professores e doutores, mestres e professores especializados, profissionais qualificados em instituições de ponta dedicam um pouco de seu tempo, uma gota de seu conhecimento em um esforço coletivo de acordo com os 17 ODS do Milênio da ONU, cujas diretivas estão orientando a existência da revista!

AEL número 2 – novembro/dezembro 2019

Apresentamos a revista impressa, o site/plataforma, o canal do YouTube e resumos dos textos e do material produzido em nossas redes sociais – facebook, instagram, twitter, linkedin numa rede compacta de leitores e interessados em ficar bem informados sobre o mundo da Educação pública e privada, nacional e de outros países para atender às necessidades, à curiosidade dos nossos milhares de leitores com sede de conhecimento: estudantes, professores, gestores, profissionais da educação, empresários, trabalhadores e interessados que atuam ou gravitam nas áreas em torno desta galáxia.

São todos bem vindos.

AEL número 1 – de lançamento abril/ maio 2019

O Publisher

Um homem\mulher acordam às 6:30 ou 7h todos os dias, tomam café e saem para trabalhar – pegam ônibus e metrô ou taxi, uber, uma bicicleta, a pé, moto ou vão com seu carro e 40\50 minutos depois estão em seu emprego.

No final do mês têm seu salário e vão às compras em supermercados, shoppings, lojas e bazares para abastecer sua casa. Eles querem que seus filhos possam se alimentar corretamente, e ter creche, escola bom com bons professores, felizes, sábios, bem vestidos, dispostos, dignos; quer uma clínica médica para atendê-los em seus problemas de saúde com médicos confiáveis, e que tais equipamentos sociais não sejam muito distantes de sua casa, que possam ir andando, ou até aceitam que possa demorar uns 15 minutos num meio de transporte coletivo, confortável, seguro e limpo, ou num móvel particular até chegar lá!

Ao final do dia e do expediente, depois de um happy hour com colegas de trabalho, um bate papo descontraído, em que se jogam fora certas agruras diárias, quando chegarem na sua casa adquirida com o suor de seu rosto, com ajuda dos pais, e sua poupança e que pagam corretamente e mantém em ordem, habitável e limpa, querem tomar banho, trocar de roupas, comer, descansar, ler um livro ou revista, ouvir música, conversar com a família, assistir televisão ou navegar na internet, e sentirem-se seguro, confortável. Felizes, cansados, mas felizes! Eles querem que tenham água boa e fresca para beber, para prepararem as refeições diárias, para lavarem as suas roupas e tomarem banho que não seja suja.

Querem que seus filhos possam brincar numa praça limpa aos finais de semana com outras crianças, que ela seja uma praça arborizada, segura e em que as pessoas descansem relaxadamente, que façam piqueniques, passeiem com seus animais, joguem e pratiquem diversões e lazer. Onde aconteçam alguns shows de música e apresentações.

Querem que possam ir a um cinema, ou ao teatro, vez ou outra assistir uma comédia, um drama, uma aventura ou um filme\peça de suspense, que possam respirar um ar mais limpo nas ruas sem muito barulho, sem muitas buzinas e motores entorpecendo os sentidos! Com velocidade respeitosa e a calma que o momento exige.

Andar a noite com seus amados, com ou sem os seus filhos, sob o luar, nas noites frescas da primavera ou do outono, até do verão, e no caso dos lgbts, negros, orientais, índios, católicos, protestantes, evangélicos, judeus, árabes muçulmanos, orto ou heterodoxos, enfim, ele quer que também possam passear pelas ruas, andando, em coletivos ou em seus carros com seus pares de forma segura, alegres e que possam ir aos seus locais favoritos de reunião, festa, diversão ou religião, sem correrem o risco de serem assaltados, agredidos, violentados em suas liberdades, em seus corpos.

Eles querem continuar trabalhando, empregados, receber seu salário que tem de ser digno e suficiente para pagar estes pequenos caprichos todos acima elencados, com sobras para fazer uma poupança para momentos futuros, e pagar os seus impostos desde que sejam justos, porque sabem que dali sai o salário dos professores, dos médicos, dos servidores que assim como eles trabalham para si e para os outros, e que podem ser lgbts, negros, orientais, índios, judeus, árabes, brancos, mamelucos, cafuzos, caboclos, enfim, todos que vivem na sua cidade ou em qualquer outra cidade, movimentam a economia local, dinamizam a cidade, dão cores e ritmo `a vida, às vezes mais acelerado, às vezes menos… Quem não tem um probleminha vez ou outra?

Ora, eles querem demais? O que eles são? Comunistas!?! Alguém pode exclamar! Então, todo brasileiro é um comunista e não estou falando de corrente ideológica, partidos políticos, modelo econômico…Estou falando daquilo que, em essência, todo ser humano comum (e quem não é?) e vivente quer e anseia do fundo de seu coração, mas não consegue entender\enxergar.

É o que você quer, não é?

A não ser que seja doente, psico ou sociopata!

EDUCAÇÃO, LÍNGUA E CONTINUIDADE –  Um projeto político ideológico.

Por que destruir a língua e a Educação?

 

“… além de minimizar a formação humanística de caráter mais integral, a educação racionalizada (pedagogia do treinamento), continua a ser usada como mecanismo de ascensão social e de obtenção de status privado. O capitalismo reduzia tudo, inclusive a educação, à mera busca por riqueza material e status. Marx via no capitalismo a escravidão do ser humano por meio da alienação do trabalho, e na educação a possibilidade de romper com ela.” (Max Weber – Ação Social)  

 

A Educação no Brasil serviu para fortalecer os laços da dominação do estado português com a nova sociedade colonial que se erguia no continente. De fato, lá pelos 1650, quando os portugueses decidiram, enfim, ocupar as terras e explorá-las para além do pau brasil, a necessidade de manter contato com os distantes centros exploratórios e a metrópole passava por um empecilho enorme. Comunicação, melhor, a dificuldade\falta dela. Além dos meios existentes serem precários, outra questão adjunta, óbvia e fulcral apertava o nó: a língua. Ora, depois de atravessar um oceano, serras, planaltos e planícies, vales e florestas, as mensagens chegavam, se chegassem, truncadas ou deformadas pela oralidade, cada conto acrescentando um ponto, tornando as narrativas, por vezes fantasiosas e suscitando enormes dúvidas entre os interlocutores. Daí a necessidade de tais registros serem feitos de forma civilizada, organizada a fim de possibilitar o perfeito entendimento dos relatos, dos fatos, da história recebida e a ser apreciada.

Qual seria esta forma? Qual a mais adequada e ideal maneira de cobrir tais distâncias sem perder o conteúdo explícito do momento observável, distorções daquilo que realmente importava – do fato em si? Até poderia ocorrer algum floreio, requintes e adornos que impressionassem à corte, aos ministros, ao rei leitor, enfim. Coisas de etiqueta e estilo. Mas, o que importava mesmo era, dentro de um processo que chamamos de dialético de comunicação: emissor – fonte – recepção (e possível feedback) receber as informações exatas, o concreto dos acontecimentos para poder decidir que rumo tomar, quais atitudes correspondiam às necessidades explicitadas e solicitações na missiva. Opa! Respondi. Sim! A missiva, a carta, a folha de papel escrita e assinada narrando os fatos e sua veracidade. Contudo, mesmo ela se tornava um problema, pois era necessário de lado emissor quem a soubesse escrever, e ler também, porque esta é uma estrada de mão dupla. Assim, como levamos nossos celulares hoje a todos os lugares, no trabalho e no lazer, os missivistas, ou escribas, ou escrivães saiam em todas as direções carregando em seus alforjes e bolsas muito papel, penas e tinteiros em quantidade, com o que acreditavam estarem munidos e serem suficientes para satisfazer o montante de notícias e relatos a fazer e enviar aos seus empregadores – no caso aqui ministros, a corte e os reis! Equivalem a baterias e aos carregadores atualmente, com a dificuldade evidente que não era qualquer lugar que tinha papel, pena e tinta para se reabastecer. Depois de sair do navio e do entreposto inicial, era cada um por si. E em 1600 isso aqui era uma enorme floresta! Caso o missivista se perdesse, adoecesse ou viesse a falecer a comunicação estaria comprometida, até rompida.

Escrever era (e ainda é) uma função vital – sua narrativa e sua descrição serviam de olhos, nariz, ouvidos e punha palavras na boca do rei, que era quem, em última análise, tomava as decisões finais. A palavra escrita era a ponte entre o real e o imaginário distante. Eis porque tinha de ser alguém com domínio da língua. Quanto mais e melhor fosse a sua técnica redacional, seu conhecimento dos meandros da língua utilizada, a saber, da sintaxe, da estrutura lexicográfica, da gramática, e dos estilos, enfim a estética funcional a ser utilizada, mais e melhor despertariam a atenção e o interesse do leitor, no caso ministros e reis, seriam atraídos para a causa descrita. Para isso, claro, ter-se-ia de ensinar, educar as pessoas a ler e a escrever, e isso só era possível lá na metrópole, a mãe da língua derivada do latim vulgar, onde se a praticava amiúde, resquício do império romano latino já desfeito. A universidade de Coimbra data de 1° de março de 1290, segundo os historiadores. Aqui, na nova colônia, Terra de Sta. Cruz, de Vera Cruz e, por fim, Brasil era uma selva, povoada por outras línguas, outras culturas e povos, por caso ágrafos, ainda que dotados de imensa cultura e conhecimentos sobre onde viviam. Contudo, pólvora e ganância deram conta do recado. A Educação falhou?

Assim a Educação pela língua como projeto ideológico de desenvolvimento e integração na colonização, as correspondências, o correio da colônia para os centros de controle na metrópole obedeceu a um imperativo e estrito código ideológico de conquista e manutenção. Era uma necessidade básica, afinal embora o tivesse descoberto, para Portugal o Brasil era terra de ninguém (servia até de exílio forçado para expatriados) e assim pensavam e agiam outras nações europeias que já viviam explorando o espaço continental do país, cheio de conteúdos interessantes. Ou Portugal ocupava ou perderia o rico torrão.

A língua portuguesa era muito difícil, senão inacessível para a grande maioria da população comum de Portugal. O povo a falava, claro, cada um à sua maneira com os erros e acentos comuns, e embora a estrutura, o esqueleto (o somathòs) estivesse presente, raiz inabalável do latim já deturpado pela ordinária contribuição popular, poucos eram os que a liam e a escreviam, e  menos ainda aqueles que o faziam de forma absolutamente correta, atributos estes restritos aos filhos ilustres da corte – a elite – que frequentavam a universidade ligada à Igreja medieval, ao clero (a educação não era uma proposta\projeto popular – era direcionada para a elite, como defendiam os Sofistas na Grécia clássica, mas que na Europa por razões sociopolíticas, desde a queda do império romano lá pelos 450 dC. ficou restrita aos muros dos mosteiros, conventos e abadias). Aos jovens filhos abastados eram franqueados estudos e disciplinas tais como Astronomia e Matemática, Política, Filosofia, Retórica, Gramática, Música e Artes (incluindo Arquitetura), as Ciências Naturais e as Línguas, espaços curriculares divididos em Trivium, os anos iniciais e Quadrivium* (talvez equivalente a um pré-universitário). Dali para frente, para continuidade e aprofundamento nos estudos só uma imersão absoluta nos códices da conduta monástica, talvez por toda a vida!

Desta forma, também não é de estranhar o fato de que para a população colonial de origem portuguesa vivente no Brasil, e, portanto, distante da metrópole, e por isso mesmo pobre e sem aceso às riquezas e benesses do reino, e mais ainda para os estrangeiros, os de outras nacionalidades que para cá vinham por motivos diversos, a língua portuguesa fosse uma aberração, uma loucura com a qual jamais se acostumariam, e, para tanto há que se considerar, inclusive, que por serem muitos dos imigrantes analfabetos, agricultores familiares acostumados às lides campestres, de pequenos vilarejos de Portugal e de outros cantos da Europa que a partir dos séculos XVI, XVII em diante vieram tentar uma nova vida aqui, longe de suas pátrias, a questão da comunicação fosse assaz problemática.

O projeto educacional português detinha então esta prioridade/proposta? Sim. Em qualquer lugar do planeta a Educação, em qualquer tempo histórico e para qualquer país, tribo ou comunidade há uma proposta, detém uma prioridade. Educar encerra um sentido, uma ideia, um objetivo, ou muitos objetivos. É um sistema\ferramenta amplo de adaptação e controle sobre à vida. Sem ela não estaríamos aqui. Sem ela o próprio sentido de humanidade, de comunidade, de país ou língua estaria perdido numa selva de crueza e malfeitos leviatânicos*.

Antigamente, na Grécia e no império romano os filhos da elite, dos patrícios, eram conduzidos às escolas por pedagogos – estes eram ‘meros acompanhantes’, mas, obviamente, detinham conhecimentos que eram repassados às crianças em formação escolar, com quem discutiam o ensinado nas escolas, como que reforçando o aprendizado ou tomando as lições diárias. Na verdade, eram mantenedores do sistema educacional ideológico proposto e estruturado para educar os pequenos e futuros representantes da elite. Educar era assim, no sentido mais estrito do termo: colocar em um caminho – vem do latim: educere – colocar o jovem sem luz (alumni), o pequeno aprendiz no caminho da elite que detinha, e controlava, claro, o acesso ao processo educacional (tal pai, tal filho). Os sofistas gregos (entre eles Protágoras de Abdera para quem o “homem era a medida de todas as coisas!”) foram os primeiros a entender e a divulgar a noção de que a Educação deveria ser vista como um produto – e que, portanto, ela deveria ser paga – porque para ela, para a Educação, estaria destinada a função de traduzir o mundo conceitual, as ideias que estruturavam o modo de ser e de viver da elite (paidèia para os gregos)*. E ser da elite era não ser popular, significava estar e não ser das ruas, ter sangue nobre, não ser mestiço ou ter mistura de nacionalidades, ser guerreiro, cavaleiro etc… Grego puro, romano puro, alemão, japonês, norte-americano blá, blá, blá se é que isso é possível! Uma idiotice que se repassa e se repete historicamente na saga vampiro versus lobisomem das histórias em quadrinhos infantis até então etc… Em oposição a estes estavam outros pensadores, dentre eles Platão* e Sócrates, que preferiam a educação livre, nas praças, uma coisa pública. Exatamente: coisa pública – res publica – República*. Embora eles não fossem democratas (preferiam um rei no comando da Pólis, ou das Poleis, e que preferencialmente fossem filósofos) entendiam que a Educação deveria ser para todos os que nela tivessem interesse. E a pedagogia que não entender e não se debruçar sobre isto está colocando em risco a saúde e avida das pessoas que precisam ser educadas.

Atualmente, vivemos no Brasil os efeitos de processos que querem evitar esta ordem, e que pretendem destruir esta propriedade, a organicidade que preparara os jovens humanos e os coloca no caminho da humanidade e os instiga a se portarem como tal, de forma livre, pública e democrática. Uma série de manifestações politizadas de caráter meramente comercial, e claramente ideológico (o pano de fundo é diáfano e de difícil interpretação imediata), intentam o desmonte da educação pública e, por conseguinte, da própria estrutura interna do país. E se a Educação, em si, como dito tem propósitos, tem objetivos, destruí-la, desmontá-la por sua vez esconde outros. Dizer hoje que a escola não tem partido, ou ideologia que a oriente em seus princípios orientadores é o mesmo que querer impor a cegueira! Perder o controle. O estado monárquico português sabia disso! Educar para controlar pela língua – mais de 70% das aquisições conscientes e talvez inconscientes da vida se dão\transmitem pela língua\linguagens. Importava aos reis, às elites dominantes, que pudessem receber informes das suas colônias (assim como as grandes empresas, os bancos os recebem de suas filiais) pelos meios práticos utilizados à época: as cartas*, e depois com a aquisição da imprensa – a tipologia de Guttemberg – os jornais, a imprensa, contendo os dados de crescimento, do desenvolvimento, diário, mensal, anual, a vida da colônia, em suma. Óbvio! Controle. Por ela também conseguimos nos libertar do estado português e criar este país, ainda cheio de problemas, se construindo diariamente, buscando sua identidade. Mais, os meios termos do processo educacional e o que foi se somando a isso a partir do implemento das novas tecnologias e a renovação constante do arcabouço ideológico, sempre crescente (as modernas TICs oferecem a alguém os dados para orientar as suas ações, sejam elas humanitárias, sejam elas bestializantes.) De Pero Vaz de Caminha, aos anônimos colonos com seus problemas, aos bairros, cidades e estados que atualmente moldam o conturbado país chamado Brasil, a educação quer dizer exatamente, mas não apenas isto: controle sobre a população – assim obtém-se o conhecimento – o estado conhece a sua gente, a sua população, recolhe dados sobre esta e os analisa, e pensa em como estabelecer as políticas e atender às demandas sociais de forma republicana. Ao mesmo tempo oferece a Educação como ferramenta estrutural básica para o cidadão, aquele que vive nas cidades poder se erguer diante das feras e bestas e deixar de agir como tal, para se comportar em sociedade como humano – entre diferentes, na percepção ideal de que a prefeita liberdade é, em suma, um jogo constante de contínua interdependência relativa, a fim de entender as regras do jogo, propor mudanças com vistas à melhoria evolutiva da sociedade e dos diversos setores que a conformam. Deveria ser assim. Mas, não é!

Então, o estado abriu mão do controle social sobre sua gente? Não. Ele ainda o quer, e muito, até porque vive dos impostos que cobra. Mas, o governo atual, amparado por um golpe institucional e envolto nas sombras dos interesses privatistas, numa manobra esdrúxula e criminosa prefere destruir a Educação formal, humanitária, abrangente e para a vida, e em seu lugar estabelecer um projeto reducionista de educação para o trabalho. Errado? Também não. Não completamente, mas em grande parte um engodo, um retrocesso histórico cujo escopo é a dominação. Basta ver a ‘bula’ das profissões brasileiras*. Quantas exigem ensino médio, quantas exigem ensino especializado, quantas exigem ensino superior, pós-graduação, mestrado, doutorado e além etc e compará-la com a oferta. E, fundamentalmente, porque a atual política educacional, embora se diga pública, não é para o público, é contra o público, se enquadra dentro de um projeto neocolonialista, neoescravagista limítrofe, ancorado no neoconservadorismo pseudoliberal apenas e tão somente porque pretende  resumir a vida de um ser humano, do homem e da mulher desde criança até a velhice em seu trabalho (não por acaso muito mal remunerado). O ser complexo dotado de múltiplas inteligências, o humano como assinalou Howard Gardner* e seus colaboradores em suas pesquisas das inteligências múltiplas, anseia pelo conhecimento e o busca alcançar incessantemente e por diversos meios, materiais, intelectuais, emocionais, espirituais porque com eles pode ampliar o seu domínio sobre si mesmo, e alcançar, a partir daí, o entendimento do outro, da sociedade, do mundo, da vida, e chegar a um estágio de felicidade complementar àquele obtido pela plena realização profissional, como bem descreveu Aristóteles em sua Ética* há dois mil e quinhentos anos atrás.

Ah! Em termos materiais, nada devemos a Portugal! Pelo contrário…

 

Bibliografia, referências e pesquisa de apoio:

*Leviatã – Thomas Hobbes (pdf) em – https://pensamentosnomadas.blogs.sapo.pt/livros-de-thomas-hobbes-em-portugues-61656
*Trivium e Quadrivium – As Artes Liberais na Idade Média – Mongelli, Lenia Marcia / Friaça, Amâncio – Editora IBIS
*Monteiro Lobato e a presença Francesa em A barca de Gleyre – https://books.google.com.br/books?isbn=8574196975 – Ana Luiza Reis Bedê
*Platão & a Educação – https://books.google.com.br/books?isbn=8551301519 – Jayme Paviani
*A república – Platão –  https://www.amazon.com.br/Rep%C3%BAblica-Plat%C3%A3o-J-Guinsburg/dp/8527307677
* Paidéia: A Formação do Homem Grego –  www2.uefs.br/filosofia-bv/pdfs/jaeger_01.pdf
*Direito do trabalho: profissões regulamentadas sistematizado – https://books.google.com.br/books?isbn=8536123249 – José Alcimar de Oliveira Cruz
*Inteligências Múltiplas – https://books.google.com.br/books?isbn=8536323574 – Howard Gardner, ‎Jie-Qi Chen, ‎Seana Moran
*Aristóteles para quem busca a felicidade: A resposta da filosofia … https://books.google.com.br/books?isbn=8573128445 – Jean Vanier
*Aristóteles & a Educação – https://books.google.com.br/books?isbn=8582179421 – Angelo Vitorio Cenci
*Conceitos básicos de filosofia e política no século XXI – Volmer Silva do Rêgo – CBJE – RJ 2014
*Sociedade, Educação e desencantamento em Max Weber – https://pedagogiaaopedaletra.com/sociedade-educacao-desencantamento-max-weber-2/
*Max Weber – https://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rc/article/view/143/122

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Assista o vídeo de apresentação e compartilhe com seus amigos.

Lutar em todas as frente por uma Educação pública gratuita e de qualidade é dever de todas as pessoas que pagam impostos diretos e indiretos, de todos os que vivem, trabalham e batalham diariamente nesta cidade, neste estado, neste país.

Vamos lutar juntos pelo que é nosso e nos interessa!

 

 

Comunicação Interna – pilar estrutural de sua empresa/instituição

 

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Microensaio prótese

Tenho lido, ouvido e assistido muitas discussões sobre Educação. Eu mesmo, às vezes, me atrevo, nos meus vinte e tantos anos de vivência em escolas públicas,  fora o tempo de estudante, a fazer intervenções e críticas sobre o tema.
Desta vez quero me ater a dois princípios que regem a Educação, primeiro institucionalmente enquanto uma política pública que pretende responder aos direitos dos indivíduos, mas com vistas ao desenvolvimento do Estado e de seus interesses. Ele (Estado) que procura vencer desafios imputados pelo desenvolvimentismo e pela competição, ao meu ver desnecessária, ambas apresentadas como a direção inquestionável a seguir, como a resposta necessária e suficiente para todos os males da modernidade, ou, no mínimo como modo preventivo para o não retorno à barbárie, uma contradição imanente, dado que as guerras produzem desenvolvimento, binômio que de acordo com Eric Hobsbawn vem movendo as nações desenvolvidas desde a primeira metade do século XX.

Dados estatísticos parecem comprovar e apontar a eficácia da Educação em fomentar e incrementar o desenvolvimento do povo de um país, e que por esta se pode alcançar patamares satisfatórios e colocar-se, a partir de então, dentre os competidores, como um dos melhores e capazes do mundo. Entretanto, estas mesmas estatísticas não dizem que há diversos modos de desenvolvimento, e que estes se alcançam de formas diferentes e em diferentes estágios, espaços e tempos. E que a educação prima pelo respeito e pelo conhecimento do outro, e que por isso mesmo não o exclui como o método competitivo que dita a regra preconiza.

Temos o desenvolvimento tecnológico como sendo o de ponta, o mais avançado, o mais preferido e a ser alcançado pelas nações. Foguetes e transportes marinhos e terrestres, sondas nucleares, ‘bionanoengenharia‘ genética, domínio das ondas e das partículas criadoras do universo, armas e telecomunicações etc… O populacho de espírito frágil se encanta com os aparelhos de telefonia móvel e seus apps, teoricamente facilitadores da vida moderna, suas interações com outros utensílios domésticos, com os automóveis, e ajoelhado na frente da tv ou do computador (modelos que já se vão despedindo da modernidade pela obsolescência programada) sonha com viagens mais distantes. De fato, estes artefatos da indústria moderna nada mais são do que o lixo, ou o restolho da tecnologia de ponta.

Tudo o que o mercado faz é aproveitar do conhecimento emanado e produzido pelo circuito educacional vigente, selecionar o que melhor lhe convém e investir pesado na publicização destes processos, favorecendo uma nicho da indústria contemporânea. Assim, comunicações e transportes disparam na frente e são os ponta de lança desta corrida, rumo ao futuro sem rumo. Todo o resto da cadeia produtiva fica à deriva ou na dependência, e às vezes na contra-mão desta disposição competitiva, e para não perder tempo e terreno adere à moda, ou ‘surfa na onda’, como diria um técnico publicitário. A Educação não se encontra fora do sistema, adapta-se para não se perder (mas já se perdeu) e procura acompanhar o fluxograma indutivo dos detentores comandantes dos processos e suas diretivas com vistas ao mercado e aos lucros. Aí tudo se mistura e o reino da quantidade se instaura(*1).

O carro certo para combinar com o mobile ideal, a roupa, o lugar, a bebida, o tipo de corpo e a forma da mulher, com o relógio de pulso e o cartão de crédito, e a conta de seis dígitos no banco mais, aquele esquema que vai te proporcionar as férias perfeitas com a alimentação correta e balanceada que seu corpo precisa para você, usando as marcas certas tornar-se cobiçado, invejado, querido, preferido entre os milhões de seres sem face, os que estão circulando sem direção exata, perdidos na multidão sem função definida, deseducados, feios, esquecidos, abandonados e muito distantes do paraíso artificial para onde tudo aquilo lá em cima te remeteu.

E aqui, dentro da ‘mistura fina’ que a sociedade da quantidade reinante promove, entra a novamente a Educação como método, processo, condição essencial para que o indivíduo alcance seus fins, a percepção individual das suas necessidades como resultantes dos conflitos internos e do jogo das contradições que o formam, ao observar a sociedade sem compreendê-la, às pessoas, o planeta, a natureza restante, os recursos pessoais seus e os coletivos, mundiais, a concentração destes nas mãos de poucos, a distribuição não equilibrada, o fomento de crises contagiosas e tudo o mais que se lhe chega sem que tenha solicitado, pedido, misturando-se aos meios e deturpando seus fins, obrigando-o a novas necessidades, não necessariamente suas por princípio, mas que além de responder e induzir ao modelo que a sociedade criou e determinou como sendo o melhor, o da posição certa, no lugar certo, na hora certa, tapam-lhe o sol, turbam-lha a visão, impedem-lhe a crítica e não lhe traz nem lhe dá satisfações e oportunidades de fugir desta direção do discurso único, de mudar o rumo e escapar da sociedade baseada em desejar, esforçar-se, consumir, usar e descartar para se tornar o número um, o destaque entre tantos… O espermatozoide que vai fecundar a nova era em uma fêmea perfeita, limpa, saudável, fértil… Os ícones confusos e vazios da contemporaneidade…

Daí que tenho lido, ouvido e visto muitas discussões sobre Educação: uma que prima pela necessidade de criar as condições ideais para que os indivíduos se projetem socialmente e projetem as suas necessidades, o papel da política social de estado que deve gerir tais condições na sociedade, torná-la produtiva como um todo para que participem da novidade, do progresso, do desenvolvimento, obviamente nas mãos de gente despreparada, irresponsável e irrresponsiva e, por isso mesmo, dona da criação de subsistemas inócuos, incapazes de produzir indivíduos pensantes numa sociedade capaz de mudar este rumo, e, por outro lado, aquilo que o indivíduo responde ao estímulo dado, a criação de uma postura contrária à provocação constante e sua capacidade de resistência à aderência, a anemia espiritual que não se opõe ao consumo destes objetos e ideias, num mundo curioso, repetitivo, enfadonho, cada vez mais feito para servir, mas que ainda são produzidos por mãos humanas (muitos processos de inteligência artificial já substituem a intervenção direta do homem – máquinas produzindo máquinas), até o momento em que aqueles deixarem de ser necessários…

 

Eric Hobsbawn – A ERA DOS EXTREMOS – O breve século XX 1914-1991
Tradução: MARCOS SANTARRITA
Revisão técnica: MARIA CÉLIA PAOLI
2° edição 9ª. reimpressão
COMPANHIA DAS LETRA

*O reino da Quantidade e o Sinal dos tempos – Renè Guenon. Paz e Terra – 1987

 

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