Arquivo da categoria ‘Pátria Educadora’

tecnologias educativas e novos modos – pedagogia da máquina

As crises trazem consequências muito diferentes em todos os campos, porque as pessoas reagem a elas de formas bastante diferentes.

São Paulo, 16/07 de 2020.

José Moran

Alguns aprendem rapidamente, experimentam, enxergam novas oportunidades (modificam sua mentalidade mais profundamente); outros desenvolvem algumas competências digitais, práticas diferentes e fazem só alguns ajustes no seu modelo mental e de vida (realizam mudanças parciais).

Um terceiro grupo de pessoas permanecem na defensiva, só enxergando perdas e problemas (e só mudam tardiamente e a contragosto). As transformações que virão serão fortes, mas com consequências muito diferentes para os diferentes grupos.

Uns sairão fortalecidos, com mais ideias para porem em prática novas competências, visões, oportunidades. A maioria vai fazer ajustes, incorporar algumas práticas digitais, e terão que avançar mais rapidamente forçados pelas circunstâncias de empobrecimento, pela atratividade das propostas dos novos concorrentes.

Um terceiro grupo resistirá o máximo que puder, tentando implementar mudanças mais cosméticas, de marketing, sem mexer no modelo convencional, porque isso atende a uma parte da sociedade que é bastante conservadora.

Algumas aprendizagens principais na Educação

Fomos empurrados abruptamente para o digital e percebemos que podemos replicar a maior parte das atividades da nossa vida em diferentes plataformas e aplicativos: Comunicarmos, comprar, ensinar, aprender, trabalhar remotamente, fazer consultas médicas, tomar decisões colegiadas em diversas instâncias.

O confinamento aguçou nosso olhar para a educação como encontro vivo entre pessoas – todos os envolvidos – que desenvolvem competências cognitivas, socioemocionais e éticas.

Mostrou a importância da empatia, da resiliência, do acolhimento, da escuta ativa, do estabelecimento de vínculos, do   saberes, da flexibilidade para entender que a situação e necessidades de cada um são diferentes.

Muitos perceberam a fragilidade da vida, a importância do afeto, de valorizar-se, de desenvolver projetos interessantes, de gostar de aprender e de viver de forma mais simples.

Em relação às arquiteturas didáticas, enquanto alguns só fizeram transposições de aulas presenciais para ambientes digitais – focadas mais na fala do professor – muitos outros aprenderam a combinar dinâmicas diferentes: aulas gravadas, ao vivo, com dinâmicas individuais e outras bem participativas, que antes não lhes eram familiares no digital (trabalho em grupos simultâneos, desenvolvimento de projetos, metodologias ágeis) com apresentação e discussão de resultados e novas sínteses.

Muitos estudantes se perguntam agora, porque precisam dirigir-se todos os dias a uma sala de aula para ouvir um professor, gastando tanto tempo se podem fazer as mesmas atividades online. Muitos docentes também se fazem perguntas semelhantes: Precisamos estar fisicamente juntos para aprender e quando é mais vantajoso fazê-lo de um jeito ou de outro?

Os gestores, diante do empobrecimento da população e da acirrada concorrência, também se perguntam: numa época de empobrecimento, como trazer uma educação moderna, ágil, com custos menores sem diminuir a qualidade?

Algumas aprendizagens mais específicas: Pessoas, escolas e universidades foram desafiadas a adaptar-se rapidamente, a planejar de forma rápida, mais compartilhada, com experimentação e avaliação contínuas dos processos.

Isso trouxe uma aceleração do domínio de competências digitais e de plataformas e aplicativos para ensinar e aprender, grande compartilhamento de práticas e de descoberta, novas formas de comunicação e de avaliação.

Cada instituição ou sistema, privado e público, procurou, dentro da sua realidade, encontrar o caminho que lhe pareceu mais adequado.

O ineditismo do confinamento tão longo, causou intenso estresse em todos, mas permitiu experimentar diversas soluções para a comunicação frequente com alunos e famílias, manter da melhor forma a dinâmica do ensino e aprendizagem.

Há uma explosão de eventos ao vivo online, para compartilhar ideias, experiências, problemas. Temos aulas transmitidas ao vivo, outras gravadas com atividades e muitos arranjos tecnológicos, pedagógicos e gerenciais.

Estratégias diferentes de comunicação com alunos, pais, entre professores. Confirmamos que as aulas têm que ser experiências desafiadoras, surpreendentes, ricas de questões vinculadas com a vida e de aplicações, seja no presencial ou no online, com professores inspiradores e com intenso envolvimento dos estudantes.

O contato com cada professor tem que trazer a riqueza da vida, o encontro de personalidades que se completam. O docente precisa ser um grande provocador, interlocutor, orientador de pesquisa e caminhos, de abertura de novas trilhas e desafios.

Cresceu a Importância dos modelos híbridos, da aula invertida com materiais interessantes, em que cada aluno estuda em tempos diferentes, depois realiza desafios individuais e em grupo de aplicação mais imediata, utilizando diversas plataformas digitais, com momentos offline combinados com outros online para apresentação, discussão online e formas mais imediatas de avaliação.

Infelizmente muitos aprenderam a utilização mais simplista e tradicional da aula invertida: Muito conteúdo e atividades pouco desafiadoras nos momentos online.

Constatamos também alguns avanços no domínio das metodologias ativas no online, trabalhos por projetos, por design thinking, jogos, times, no meio de muitas escolas que simplesmente transpuseram modelos presenciais para o online, gerando bastante desinteresse.

Ficou bem escancarada a tremenda desigualdade social: infraestrutura, condições de acesso, condições de estudo, econômicas, emocionais e a engenhosidade de muitas escolas, universidades, prefeituras e estados para oferecer alternativas para a maioria.

Algumas mudanças mais previsíveis

Período forte de ajustes em todos os campos pelo empobrecimento de boa parte da população, pelas graves tensões políticas, pela necessidade de baixar custos, de oferecer um serviço educacional que faça sentido para os diversos tipos de estudantes, buscar novas receitas, oferecendo novos serviços. 

Modelos de gestão e acadêmicos mais enxutos, personalizados, economia de escala, incorporação ampla do digital. Mudanças na forma de ensinar.

Muitas ofertas e oportunidades de aprender: nano cursos, certificações diferenciadas, plataformas adaptativas com inteligência artificial (que podem auxiliar enormemente na personalização da aprendizagem).

Vantagens das Instituições que avançaram na gestão, currículos mais integrados, personalizados e flexíveis e fortemente digitais, focados em competências. Haverá um intenso crescimento de modelos ativos híbridos (entendo as muitas possibilidades e dimensões desse conceito).

Assim como todos os setores econômicos estão oferecendo serviços mais integrados, também o setor educacional oferecerá propostas muito mais flexíveis, personalizadas e abertas.

Uma boa parte das instituições será empurrada para o híbrido pela necessidade de cortar custos e de enfrentar uma concorrência acirrada, mas o fará de forma simplista: focando mais em conteúdo do que em desafios; e manterão os docentes mais baratos e que realizem atividades mais convencionais.

Crianças pequenas continuarão precisando de muito acompanhamento e interação presenciais. Já os demais estudantes encontrarão muito mais significado em currículos mais personalizados (trilhas diferenciadas), desafios e projetos engajadores, alternar tempos pessoais, experiências em grupo e alguns espaços para mentoria.  

Escolas e universidades farão essas transformações em ritmos diferentes. Haverá novas parcerias para diluição de custos, enfrentar a concorrência, seguir a onda de fusões. Haverá um enxugamento de cargos administrativos e docentes no curto prazo.

As instituições mais sérias manterão os melhores docentes; as mais comerciais trocarão os docentes mais experientes por docentes com pouca experiência e baixos salários.

Haverá um crescimento de parcerias entre instituições, de diferentes formas de colaboração, de atuação em redes mais ativas, assim como aumentarão as fusões para evitar a quebra de instituições menores.

Como a Educação é o setor mais estratégico para a transformação de qualquer país e ela se estende ao longo da vida de todas as pessoas, haverá cada vez mais oportunidades para profissionais, organizações de explorar novos mercados, desenvolver propostas adequadas para as necessidades de cada um, de cada organização, realizar múltiplas parcerias com todos os setores econômicos e sociais.

O grande problema de fundo do país é a desigualdade brutal e a diferença de oportunidades reais transformadoras para a maioria da população. Corremos seriamente o risco de continuar aprofundando o fosso entre instituições interessantes –mesmo com modelos diferentes – e muitas outras que vão ficando para trás, com muita dificuldade de sair da transmissão de conteúdo, exercícios e provas com consequências devastadoras para o futuro dos jovens do país.

José Moran – Educador, fundador da Escola do Futuro – USP – Pesquisador de processos de transformação das Pessoas, Escolas e Universidades  Educação Transformadora

Um buraco negro social!

12\03\2018

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Em três tempos, voltando do Detran SP onde fui tentar a primeira habilitação. Aos 57 anos (mero detalhe técnico!)

Não aceitaram, por duas vezes, meus comprovantes de endereço por falta de data. Que se dane! Sou velho! Adoentado…

Por que preciso de automóvel, se posso ir de metrô, de ônibus, ou com algum esforço conseguir um Uber ou um taxi… todos tão eficientes!? (sic)

Já na ida, na calçada, entre transeuntes e camelôs com seus produtos, espanto-me com uma lona estendida que oferecia punhais e facas de corte – do tipo Rambo assassino silencioso – com empunhadura, gatilho, e lâminas de aço afiadíssimas…

Achei estranho! Não há fiscalização? Nenhuma? Ingenuidade pura! Voltei pensando no assunto. Parei na catraca da estação porque o bilhete tem um tempo de espera para poder ser reutilizado.

Neste ínterim pude observar uns “nóias” andarilhos naquela praça desumana da estação Armênia do Metrô.

Sempre imaginei que como homenagem àquele gente merecessem um território mais rico pela sua história e sofrimento (a que nos contam sobre eles, pelo menos – já que apenas, possivelmente, a elite abastada daquele país consegui fugir às invasões turcas e das guerras passadas). E vieram parara logo ali?!

Entre os “nóias” (explico: drogaditos irrecuperáveis que perturbam as pessoas para conseguirem algum dinheiro e poder comprar drogas dos muitos traficantes da área), todos pequenos mequetrefes que vivem de vagabundagem e expedientes ilegais, o que me fez lembrar das cenas retratadas por D.H.Lawrence da Londres de 1919 e em filmes e outros livros que já andei vendo\lendo.

A história demora a passar ou se repete, mesmo como farsa, já disse o cientista histórico dialético terror dos capitalistas. Deve ter sido assim também na Roma 300 d.C. (o poema de Ovídio, pelo menos, penso eu, não trata destes detalhes!), quando o império entendeu o tratado\estratagema político de Jesus Cristo.

Busca umas pedrinhas pra gente!” Disse um dos três menores (carinhas de estudantes pequenos, pardos e magros de escola pública gazeteando aula, ou simples meninos já sem rumo na vida – capitães de asfalto – isca de polícia e da malandragem mais ‘afinada’) ao entregar dinheiro para outro, maior de idade, também magro, alto, mas que se trajava como todos – roupas velhas, blusas, camisetas, bermudas e calças sujas e surradas, bonés e mochilas nas costas. O uniforme da miséria social!

Decidi entrar no metrô com eles na mente; um dia algum sobrevivente poderá ser qualquer coisa na vida, afinal vivemos numa democracia meritocrática que organizou o sistema e oportuniza iguais condições para todos que queiram “vencer na vida”!

Um soldado, um policial, um professor, advogado ou juiz, um engenheiro ou arquiteto, um médico, enfim… Tivemos até um presidente técnico torneiro mecânico (uma raridade, admitamos!)

Claro que ele foi um escolhido, meticulosamente como o Jesus lá de Nazaré (“aquela terra de onde nada de bom poderia sair” segundo os patriarcas judeus donos ciosos do Sinédrio), pois alguém percebeu nele as qualidades necessárias e suficientes para torná-lo no que se tornou.

Talvez o romano Pôncio Pilatos! Quem sabe!? Um cara capaz de lutar e resistir contra o sistema imposto por elites cruéis a favor dos menos afortunados merece destaque.

Pelo menos é assim que nos ensinam sobre o Cristo, o abençoado, o ungido, o protegido de Deus, que talvez fosse como um daqueles gregos (de onde se traduz o nome ‘Christos‘) semideuses, humanos com poderes especiais e proteção franqueados pelos deuses e origem divina.

Foi pensando assim que vi dois carinhas entrarem no mesmo vagão em que eu viajava, não para venderem pequenos aparelhos roubados ou cacarecos semi-eletrônicos, aliviados das cargas do Porto de Santos e ou traficados do Paraguai numa boa pela Ponte da Amizade, e aquele tipo bem característico de propaganda, não acadêmica, você sabe: pen drives, fones de ouvidos, capinhas para celulares e documentos, três por cinco etc…

Não! Estes caras entraram (e isso também já é comum) carregando instrumentos musicais: um com seu violão e outro com seu violino. Jovens, apresentaram-se como ‘artistas de rua’ e tocaram muito bem (sou exigente!) um clássico batido da pop rock norte-americana dos anos 70 “Dust in the Wind” do grupo Kansas, e depois uma do Luiz Gonzaga, porque aqui é a terra da fusão universal (dizem os acólitos de Sérgio Buarque de Holanda). Enfim, foram aplaudidos e passaram o chapéu.

Mas, não lhes dei nada, não ando com dinheiro no bolso, apenas sorri quando o violinista ao me olhar reconheceu pelo meu gesto a minha aprovação, e sorriu de volta!

Desci do trem pensando que se um dia eu tivesse um carro não veria estas coisas e não teria sequer a chance de pensar nelas como um caldo fervente e agudo, aquecido pelo anseio das tantas almas perdidas à procura de algo, em um desespero natural que nenhum sistema humano será capaz de oferecer solução, ainda que alguns tenham tentado e se esmerado em reconhecer a necessidade urgente de um projeto social, um conjunto, um repertório de aproximações culturais capaz de gerar um sentido civilizatório.

E imediatamente a imagem das facas assassinas frias e silenciosas na barraca de rua me vieram à mente!

Nenhuma civilização que se baseia no uso de armas feitas para matar seus semelhantes merece este nome! Podem até ter um enorme repertório cultural e praticá-los sob a égide de um sistema legal\judiciário proibitivo\punitivo, seguir uma ética e padrões de acordo com o quê e onde vivem, mas jamais serão civilizados! Serão ilegítimos, sempre.

Não alcançarão à glória dos deuses! Por mais que busquem a perfeição, por mais que repitam a busca, desde o grande dilúvio e talvez até antes dele, como nos deixa entrever Gilgamesh em sua luta contra o monstro sagrado que o persegue, serão sempre o que são: metade animal feita do que tirarem da terra e da incapacidade de preservarem-na como ela merece!

Por que tem uma fome imorredoura, infinita! E uma pergunta ficou pulando na minha cabeça como um “kangaroo” australiano na planície: – “Afinal, o que é mesmo que os seres humanos querem? Será que é Vida?” Agora me digam que diabos é esta Vida?

Não deve ser a sua…

 

Um projeto que deu certo!

Mais de 2 centenas de colaboradores em todo o mundo! Escrevendo textos e artigos, acadêmicos ou não, engrandecem o projeto enviando vídeos, podcasts, imagens, compartilhando seus conhecimentos em defesa de princípios democráticos, republicanos, de liberdade de expressão, pensamento progressista e de respeito às diferenças e do estado de direito, de cultura e da arte.

Acadêmicos e intelectuais, professores e doutores, mestres e professores especializados, profissionais qualificados em instituições de ponta dedicam um pouco de seu tempo, uma gota de seu conhecimento em um esforço coletivo de acordo com os 17 ODS do Milênio da ONU, cujas diretivas estão orientando a existência da revista!

AEL número 2 – novembro/dezembro 2019

Apresentamos a revista impressa, o site/plataforma, o canal do YouTube e resumos dos textos e do material produzido em nossas redes sociais – facebook, instagram, twitter, linkedin numa rede compacta de leitores e interessados em ficar bem informados sobre o mundo da Educação pública e privada, nacional e de outros países para atender às necessidades, à curiosidade dos nossos milhares de leitores com sede de conhecimento: estudantes, professores, gestores, profissionais da educação, empresários, trabalhadores e interessados que atuam ou gravitam nas áreas em torno desta galáxia.

São todos bem vindos.

AEL número 1 – de lançamento abril/ maio 2019

O Publisher

EDUCAÇÃO, LÍNGUA E CONTINUIDADE –  Um projeto político ideológico.

Por que destruir a língua e a Educação?

 

“… além de minimizar a formação humanística de caráter mais integral, a educação racionalizada (pedagogia do treinamento), continua a ser usada como mecanismo de ascensão social e de obtenção de status privado. O capitalismo reduzia tudo, inclusive a educação, à mera busca por riqueza material e status. Marx via no capitalismo a escravidão do ser humano por meio da alienação do trabalho, e na educação a possibilidade de romper com ela.” (Max Weber – Ação Social)  

 

A Educação no Brasil serviu para fortalecer os laços da dominação do estado português com a nova sociedade colonial que se erguia no continente. De fato, lá pelos 1650, quando os portugueses decidiram, enfim, ocupar as terras e explorá-las para além do pau brasil, a necessidade de manter contato com os distantes centros exploratórios e a metrópole passava por um empecilho enorme. Comunicação, melhor, a dificuldade\falta dela. Além dos meios existentes serem precários, outra questão adjunta, óbvia e fulcral apertava o nó: a língua. Ora, depois de atravessar um oceano, serras, planaltos e planícies, vales e florestas, as mensagens chegavam, se chegassem, truncadas ou deformadas pela oralidade, cada conto acrescentando um ponto, tornando as narrativas, por vezes fantasiosas e suscitando enormes dúvidas entre os interlocutores. Daí a necessidade de tais registros serem feitos de forma civilizada, organizada a fim de possibilitar o perfeito entendimento dos relatos, dos fatos, da história recebida e a ser apreciada.

Qual seria esta forma? Qual a mais adequada e ideal maneira de cobrir tais distâncias sem perder o conteúdo explícito do momento observável, distorções daquilo que realmente importava – do fato em si? Até poderia ocorrer algum floreio, requintes e adornos que impressionassem à corte, aos ministros, ao rei leitor, enfim. Coisas de etiqueta e estilo. Mas, o que importava mesmo era, dentro de um processo que chamamos de dialético de comunicação: emissor – fonte – recepção (e possível feedback) receber as informações exatas, o concreto dos acontecimentos para poder decidir que rumo tomar, quais atitudes correspondiam às necessidades explicitadas e solicitações na missiva. Opa! Respondi. Sim! A missiva, a carta, a folha de papel escrita e assinada narrando os fatos e sua veracidade. Contudo, mesmo ela se tornava um problema, pois era necessário de lado emissor quem a soubesse escrever, e ler também, porque esta é uma estrada de mão dupla. Assim, como levamos nossos celulares hoje a todos os lugares, no trabalho e no lazer, os missivistas, ou escribas, ou escrivães saiam em todas as direções carregando em seus alforjes e bolsas muito papel, penas e tinteiros em quantidade, com o que acreditavam estarem munidos e serem suficientes para satisfazer o montante de notícias e relatos a fazer e enviar aos seus empregadores – no caso aqui ministros, a corte e os reis! Equivalem a baterias e aos carregadores atualmente, com a dificuldade evidente que não era qualquer lugar que tinha papel, pena e tinta para se reabastecer. Depois de sair do navio e do entreposto inicial, era cada um por si. E em 1600 isso aqui era uma enorme floresta! Caso o missivista se perdesse, adoecesse ou viesse a falecer a comunicação estaria comprometida, até rompida.

Escrever era (e ainda é) uma função vital – sua narrativa e sua descrição serviam de olhos, nariz, ouvidos e punha palavras na boca do rei, que era quem, em última análise, tomava as decisões finais. A palavra escrita era a ponte entre o real e o imaginário distante. Eis porque tinha de ser alguém com domínio da língua. Quanto mais e melhor fosse a sua técnica redacional, seu conhecimento dos meandros da língua utilizada, a saber, da sintaxe, da estrutura lexicográfica, da gramática, e dos estilos, enfim a estética funcional a ser utilizada, mais e melhor despertariam a atenção e o interesse do leitor, no caso ministros e reis, seriam atraídos para a causa descrita. Para isso, claro, ter-se-ia de ensinar, educar as pessoas a ler e a escrever, e isso só era possível lá na metrópole, a mãe da língua derivada do latim vulgar, onde se a praticava amiúde, resquício do império romano latino já desfeito. A universidade de Coimbra data de 1° de março de 1290, segundo os historiadores. Aqui, na nova colônia, Terra de Sta. Cruz, de Vera Cruz e, por fim, Brasil era uma selva, povoada por outras línguas, outras culturas e povos, por caso ágrafos, ainda que dotados de imensa cultura e conhecimentos sobre onde viviam. Contudo, pólvora e ganância deram conta do recado. A Educação falhou?

Assim a Educação pela língua como projeto ideológico de desenvolvimento e integração na colonização, as correspondências, o correio da colônia para os centros de controle na metrópole obedeceu a um imperativo e estrito código ideológico de conquista e manutenção. Era uma necessidade básica, afinal embora o tivesse descoberto, para Portugal o Brasil era terra de ninguém (servia até de exílio forçado para expatriados) e assim pensavam e agiam outras nações europeias que já viviam explorando o espaço continental do país, cheio de conteúdos interessantes. Ou Portugal ocupava ou perderia o rico torrão.

A língua portuguesa era muito difícil, senão inacessível para a grande maioria da população comum de Portugal. O povo a falava, claro, cada um à sua maneira com os erros e acentos comuns, e embora a estrutura, o esqueleto (o somathòs) estivesse presente, raiz inabalável do latim já deturpado pela ordinária contribuição popular, poucos eram os que a liam e a escreviam, e  menos ainda aqueles que o faziam de forma absolutamente correta, atributos estes restritos aos filhos ilustres da corte – a elite – que frequentavam a universidade ligada à Igreja medieval, ao clero (a educação não era uma proposta\projeto popular – era direcionada para a elite, como defendiam os Sofistas na Grécia clássica, mas que na Europa por razões sociopolíticas, desde a queda do império romano lá pelos 450 dC. ficou restrita aos muros dos mosteiros, conventos e abadias). Aos jovens filhos abastados eram franqueados estudos e disciplinas tais como Astronomia e Matemática, Política, Filosofia, Retórica, Gramática, Música e Artes (incluindo Arquitetura), as Ciências Naturais e as Línguas, espaços curriculares divididos em Trivium, os anos iniciais e Quadrivium* (talvez equivalente a um pré-universitário). Dali para frente, para continuidade e aprofundamento nos estudos só uma imersão absoluta nos códices da conduta monástica, talvez por toda a vida!

Desta forma, também não é de estranhar o fato de que para a população colonial de origem portuguesa vivente no Brasil, e, portanto, distante da metrópole, e por isso mesmo pobre e sem aceso às riquezas e benesses do reino, e mais ainda para os estrangeiros, os de outras nacionalidades que para cá vinham por motivos diversos, a língua portuguesa fosse uma aberração, uma loucura com a qual jamais se acostumariam, e, para tanto há que se considerar, inclusive, que por serem muitos dos imigrantes analfabetos, agricultores familiares acostumados às lides campestres, de pequenos vilarejos de Portugal e de outros cantos da Europa que a partir dos séculos XVI, XVII em diante vieram tentar uma nova vida aqui, longe de suas pátrias, a questão da comunicação fosse assaz problemática.

O projeto educacional português detinha então esta prioridade/proposta? Sim. Em qualquer lugar do planeta a Educação, em qualquer tempo histórico e para qualquer país, tribo ou comunidade há uma proposta, detém uma prioridade. Educar encerra um sentido, uma ideia, um objetivo, ou muitos objetivos. É um sistema\ferramenta amplo de adaptação e controle sobre à vida. Sem ela não estaríamos aqui. Sem ela o próprio sentido de humanidade, de comunidade, de país ou língua estaria perdido numa selva de crueza e malfeitos leviatânicos*.

Antigamente, na Grécia e no império romano os filhos da elite, dos patrícios, eram conduzidos às escolas por pedagogos – estes eram ‘meros acompanhantes’, mas, obviamente, detinham conhecimentos que eram repassados às crianças em formação escolar, com quem discutiam o ensinado nas escolas, como que reforçando o aprendizado ou tomando as lições diárias. Na verdade, eram mantenedores do sistema educacional ideológico proposto e estruturado para educar os pequenos e futuros representantes da elite. Educar era assim, no sentido mais estrito do termo: colocar em um caminho – vem do latim: educere – colocar o jovem sem luz (alumni), o pequeno aprendiz no caminho da elite que detinha, e controlava, claro, o acesso ao processo educacional (tal pai, tal filho). Os sofistas gregos (entre eles Protágoras de Abdera para quem o “homem era a medida de todas as coisas!”) foram os primeiros a entender e a divulgar a noção de que a Educação deveria ser vista como um produto – e que, portanto, ela deveria ser paga – porque para ela, para a Educação, estaria destinada a função de traduzir o mundo conceitual, as ideias que estruturavam o modo de ser e de viver da elite (paidèia para os gregos)*. E ser da elite era não ser popular, significava estar e não ser das ruas, ter sangue nobre, não ser mestiço ou ter mistura de nacionalidades, ser guerreiro, cavaleiro etc… Grego puro, romano puro, alemão, japonês, norte-americano blá, blá, blá se é que isso é possível! Uma idiotice que se repassa e se repete historicamente na saga vampiro versus lobisomem das histórias em quadrinhos infantis até então etc… Em oposição a estes estavam outros pensadores, dentre eles Platão* e Sócrates, que preferiam a educação livre, nas praças, uma coisa pública. Exatamente: coisa pública – res publica – República*. Embora eles não fossem democratas (preferiam um rei no comando da Pólis, ou das Poleis, e que preferencialmente fossem filósofos) entendiam que a Educação deveria ser para todos os que nela tivessem interesse. E a pedagogia que não entender e não se debruçar sobre isto está colocando em risco a saúde e avida das pessoas que precisam ser educadas.

Atualmente, vivemos no Brasil os efeitos de processos que querem evitar esta ordem, e que pretendem destruir esta propriedade, a organicidade que preparara os jovens humanos e os coloca no caminho da humanidade e os instiga a se portarem como tal, de forma livre, pública e democrática. Uma série de manifestações politizadas de caráter meramente comercial, e claramente ideológico (o pano de fundo é diáfano e de difícil interpretação imediata), intentam o desmonte da educação pública e, por conseguinte, da própria estrutura interna do país. E se a Educação, em si, como dito tem propósitos, tem objetivos, destruí-la, desmontá-la por sua vez esconde outros. Dizer hoje que a escola não tem partido, ou ideologia que a oriente em seus princípios orientadores é o mesmo que querer impor a cegueira! Perder o controle. O estado monárquico português sabia disso! Educar para controlar pela língua – mais de 70% das aquisições conscientes e talvez inconscientes da vida se dão\transmitem pela língua\linguagens. Importava aos reis, às elites dominantes, que pudessem receber informes das suas colônias (assim como as grandes empresas, os bancos os recebem de suas filiais) pelos meios práticos utilizados à época: as cartas*, e depois com a aquisição da imprensa – a tipologia de Guttemberg – os jornais, a imprensa, contendo os dados de crescimento, do desenvolvimento, diário, mensal, anual, a vida da colônia, em suma. Óbvio! Controle. Por ela também conseguimos nos libertar do estado português e criar este país, ainda cheio de problemas, se construindo diariamente, buscando sua identidade. Mais, os meios termos do processo educacional e o que foi se somando a isso a partir do implemento das novas tecnologias e a renovação constante do arcabouço ideológico, sempre crescente (as modernas TICs oferecem a alguém os dados para orientar as suas ações, sejam elas humanitárias, sejam elas bestializantes.) De Pero Vaz de Caminha, aos anônimos colonos com seus problemas, aos bairros, cidades e estados que atualmente moldam o conturbado país chamado Brasil, a educação quer dizer exatamente, mas não apenas isto: controle sobre a população – assim obtém-se o conhecimento – o estado conhece a sua gente, a sua população, recolhe dados sobre esta e os analisa, e pensa em como estabelecer as políticas e atender às demandas sociais de forma republicana. Ao mesmo tempo oferece a Educação como ferramenta estrutural básica para o cidadão, aquele que vive nas cidades poder se erguer diante das feras e bestas e deixar de agir como tal, para se comportar em sociedade como humano – entre diferentes, na percepção ideal de que a prefeita liberdade é, em suma, um jogo constante de contínua interdependência relativa, a fim de entender as regras do jogo, propor mudanças com vistas à melhoria evolutiva da sociedade e dos diversos setores que a conformam. Deveria ser assim. Mas, não é!

Então, o estado abriu mão do controle social sobre sua gente? Não. Ele ainda o quer, e muito, até porque vive dos impostos que cobra. Mas, o governo atual, amparado por um golpe institucional e envolto nas sombras dos interesses privatistas, numa manobra esdrúxula e criminosa prefere destruir a Educação formal, humanitária, abrangente e para a vida, e em seu lugar estabelecer um projeto reducionista de educação para o trabalho. Errado? Também não. Não completamente, mas em grande parte um engodo, um retrocesso histórico cujo escopo é a dominação. Basta ver a ‘bula’ das profissões brasileiras*. Quantas exigem ensino médio, quantas exigem ensino especializado, quantas exigem ensino superior, pós-graduação, mestrado, doutorado e além etc e compará-la com a oferta. E, fundamentalmente, porque a atual política educacional, embora se diga pública, não é para o público, é contra o público, se enquadra dentro de um projeto neocolonialista, neoescravagista limítrofe, ancorado no neoconservadorismo pseudoliberal apenas e tão somente porque pretende  resumir a vida de um ser humano, do homem e da mulher desde criança até a velhice em seu trabalho (não por acaso muito mal remunerado). O ser complexo dotado de múltiplas inteligências, o humano como assinalou Howard Gardner* e seus colaboradores em suas pesquisas das inteligências múltiplas, anseia pelo conhecimento e o busca alcançar incessantemente e por diversos meios, materiais, intelectuais, emocionais, espirituais porque com eles pode ampliar o seu domínio sobre si mesmo, e alcançar, a partir daí, o entendimento do outro, da sociedade, do mundo, da vida, e chegar a um estágio de felicidade complementar àquele obtido pela plena realização profissional, como bem descreveu Aristóteles em sua Ética* há dois mil e quinhentos anos atrás.

Ah! Em termos materiais, nada devemos a Portugal! Pelo contrário…

 

Bibliografia, referências e pesquisa de apoio:

*Leviatã – Thomas Hobbes (pdf) em – https://pensamentosnomadas.blogs.sapo.pt/livros-de-thomas-hobbes-em-portugues-61656
*Trivium e Quadrivium – As Artes Liberais na Idade Média – Mongelli, Lenia Marcia / Friaça, Amâncio – Editora IBIS
*Monteiro Lobato e a presença Francesa em A barca de Gleyre – https://books.google.com.br/books?isbn=8574196975 – Ana Luiza Reis Bedê
*Platão & a Educação – https://books.google.com.br/books?isbn=8551301519 – Jayme Paviani
*A república – Platão –  https://www.amazon.com.br/Rep%C3%BAblica-Plat%C3%A3o-J-Guinsburg/dp/8527307677
* Paidéia: A Formação do Homem Grego –  www2.uefs.br/filosofia-bv/pdfs/jaeger_01.pdf
*Direito do trabalho: profissões regulamentadas sistematizado – https://books.google.com.br/books?isbn=8536123249 – José Alcimar de Oliveira Cruz
*Inteligências Múltiplas – https://books.google.com.br/books?isbn=8536323574 – Howard Gardner, ‎Jie-Qi Chen, ‎Seana Moran
*Aristóteles para quem busca a felicidade: A resposta da filosofia … https://books.google.com.br/books?isbn=8573128445 – Jean Vanier
*Aristóteles & a Educação – https://books.google.com.br/books?isbn=8582179421 – Angelo Vitorio Cenci
*Conceitos básicos de filosofia e política no século XXI – Volmer Silva do Rêgo – CBJE – RJ 2014
*Sociedade, Educação e desencantamento em Max Weber – https://pedagogiaaopedaletra.com/sociedade-educacao-desencantamento-max-weber-2/
*Max Weber – https://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rc/article/view/143/122

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Assista o vídeo de apresentação e compartilhe com seus amigos.

Lutar em todas as frente por uma Educação pública gratuita e de qualidade é dever de todas as pessoas que pagam impostos diretos e indiretos, de todos os que vivem, trabalham e batalham diariamente nesta cidade, neste estado, neste país.

Vamos lutar juntos pelo que é nosso e nos interessa!

 

 

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A Educação pública nos diversos níveis – da base à superior, voltada para pessoas das classes sociais E,D,C é massa falida. Administrativamente não é fonte de receita, mas geradora de custos. Não dá retorno imediato. Por isso é tratada, atualmente, da forma como a vemos – subpotencializada e desmantelada, ainda que permaneçam eternamente girando na boca e nos discursos dos políticos, sem jamais deixar de ser isso mesmo: um discurso.

Ainda assim, o Estado, enquanto instituição que procura se preservar burocraticamente, e aos que o detém momentosamente, e também preservar funcionalmente as estruturas básicas sociais, não pode abrir mão da Educação sem correr o risco de entrar em colapso, embora possa utilizá-la minimamente sempre e quando se tratar de educar as massas, como ocorre no estado de São Paulo e, provavelmente, em todos os estados federados da União, apenas a título de manutenção do status quo. A Constituição delega aos governos estaduais a responsabilidade total sobre os ensinos fundamental e médio para as crianças e os jovens, e à União cabem os repasses ocasionais da partilha do PIB, operação contratual que facilita a execução de peças orçamentárias e, sublinarmente, a flexibilização (um truque que precisa acabar) da responsabilidade fiscal da entidade federada, que tem por obrigação legal de manter e aplicar 33% das suas receitas oriundas dos impostos cobrados para custeio da Educação, como área prioritária. Desafortunadamente, não é o que ocorre.

Por sua vez, a União ou popularmente o governo federal tem apresentado nestes dois últimos anos um discurso que prioriza a Educação em todos os níveis, e com o slogan Pátria Educadora se arvora na capacidade que as descobertas de energia fóssil não renovável, a partir da exploração do Pré-Sal, tem e oferecerão em termos de royalties pela sua captação gerenciada pela Petrobrás sobre os serviços de outras empresas interessadas. A realização de tal compromisso, porém, esbarra numa série de contratempos de ordem político-partidária que acarretam dificuldades no processo de governabilidade. A avalanche de denúncias sobre corrupção procurando denegrir a imagem da empresa  e do atual governo tem objetivos claros e bem definidos. A realização deste feito histórico – destinar 75% dos valores obtidos e pagos pelos royalties para a Educação – significaria uma enorme dificuldade para a oposição que perderia espaço e motivos para se manter em evidência, e se desintegraria, posto que tal destinação resolveria um dos maiores e mais graves problemas do país. Em suma, a oposição política capitaneadas pelo PSDB e PMDB perderia mais da metade de sua função crítica em relação ao governo atual.

Assim os programas Minha Casa Minha Vida, Bolsa Família, Pátria Educadora, Mais Médicos e outras obras de infraestrutura somadas e em andamento, tirariam definitivamente o país da condição de subdesenvolvido, ultrapassaria a de emergente e o colocaria, bem assentado, no rol dos países ricos das potências globais. Fato inclusivamente reconhecido pelo governo dos USA, recentemente. O caminho está traçado e a realidade se evidencia. À oposição só resta bater na questão da corrupção, mal que a manteve no poder desde sempre, mas que agora tornou-se espada afiada, ainda que com dois gumes. Assustadíssima fará ‘gato e sapato’ para continuar viva no coração e nas mentes de seus eleitores entediados e incrédulos.

De fato, a União procura realizar o que já está praticamente definido por lei, à despeito de alguns senadores dos partidos de oposição estarem se articulando e procurando salvar algo para si, e é legitimo que o façam democraticamente (representam parcelas da população, ainda que estas não entendam os mecanismos de ação utilizados pelos seus representantes e também não querem ver o mal do país, imagina-se). Enquanto não se desfaz o imbróglio, a União (leia-se o governo de Dilma Roussef) recorre frequentemente aos mecanismos da administração objetiva e da economia de recursos, também legítimos, com vistas a fazer o melhor com pouco, de acordo com as prerrogativas legais e os mandamentos das modernas empresas que fazem a delícia dos acadêmicos conservadores e capitalistas de direita, e a contenção de gastos para corrigir desvios passados e a serem apurados administrativa e judicialmente (no que insiste a oposição), sem que tal acarrete perda dos índices de popularidade ditos em baixa, segundo índices apontados pelos institutos de pesquisa. Assim, o governo federal procurou atacar, incialmente, a Educação Superior com novos programas de incentivo e acesso à formação universitária (PROUNI associado ao ENEM, e PRONATEC que visa formação tecnológica – mão de obra imediata), na expectativa de produzir avanços na ‘cabeça’ – ou seja, treinar e aprimorar aqueles que cuidarão da formação da base, de responsabilidade dos estados federados, cuja defasagem é alarmante.

Parece lógico. E é, se pensarmos que a quantidade de crianças e jovens adolescentes em fase de formação ainda é enorme no país que precisa educar a mão de obra futura. Estão de fora destes números estatísticos os filhos das classes abastadas B e A (que frequentam escolas privadas, teoricamente com altos níveis de educação). Mas, só em São Paulo, segundo a fundação Seade cerca de 9 milhões de jovens nas faixas etárias de 6 a 19 anos (dados de 2003 na falta de atualizações) estão matriculados e frequentam a escola pública. Um considerável exército de mão de obra futura para o mais rico estado do país, mantido sob suspeição.

http://produtos.seade.gov.br/produtos/anuario/index.phpanos=2003&tip=ment&opt=temas&cap=4&tema=edu#1

Uma projeção do crescimento da população para o marco decenal em 2014, portanto, onze anos após os dados anteriores terem sido compilados, ou seja, uma geração depois da pesquisa cujos dados se encontram no site da fundação Seade, aponta a população do estado de São Paulo estimada em pouco mais de 44 milhões de pessoas, desta vez de acordo com o IBGE (http://www.ibge.gov.br/estadosat/perfil.php?sigla=sp) e que destes, ainda segundo o IBGE, cerca de 8 milhões estavam em idade escolar – dos 6 aos 19 anos de idade, ou seja, houve ligeiro declínio em relação aos números de 2003. Este dado diferencial talvez indique um envelhecimento da população, ou, numa análise inferencial, abandono ou falta-dificuldade de acesso ao sistema educacional público do estado de SP.

Qualquer deslize na oferta de escolas e salas de aulas que implique diminuição do aceso e da possibilidade de ter uma escola para frequentar demonstra o descaso ou falha na administração em todo o estado e se coloca frontalmente contrário aos paradigmas educacionais e metas estabelecidas pelo governo federal. Ou seja, São Paulo que já se vangloriou de ser a locomotiva do país, vai velozmente na direção contrária ao plano de desenvolvimento do país por pura birra política. Ou não se julga falido por improbidade administrativa. Buscar dinheiro nos EUA (fato recente) e no tesouro federal – mais de R$ 4 bilhões emprestados – dão uma indicação bastante concisa da situação falimentar.

Dados recentes divulgados pelos representantes do sindicato dos professores do Est. de SP (APEOESP – http://www.apeoesp.org.br/), mas que não aparecem no site (o que é uma falha imperdoável) e nem na mídia de apoio ao estado (o jogo é claro), após uma greve de 90 dias, com paralisação por melhores condições de ensino e salários defasados, dão conta que mais de três mil (3.000) salas de aulas foram fechadas nos últimos 18 anos da administração peessedebista, o que seguramente explica com razoável margem de segurança a diminuição acima citada. E não houve a compensação, ou seja, não foram construídas escolas novas em substituição às que foram fechadas desde então. Números indicam que na contramão do processo, ou do progresso, o estado de SP investiu mais em prisões – construção de cadeias. Era óbvio que alguma manifestação ocorreria frente à precariedade dos serviços educacionais oferecidos pelo estado e ao descalabro da realidade. Situação escamoteada pela mídia subserviente, e pela sua incapacidade histórica de checar com propriedade e isenção os desmandos da atual administração, obviamente amarrada pela uma situação fiscal critica e a troca de favores, publicidade etc…

Jogar a culpa nos professores e penalizá-los, retirando seu salário, diminuindo seu recesso funcional, jogando a população contra a categoria, hostilizando-os com a PM como se fossem bandidos ordinários, e pela utilização manipulada das informações através dos jornais e da TV demonstram a impressionante capacidade de mentir e eximir-se das responsabilidades que o atual governo do PSDB tem sobre o estado e a sua população. Isto sim é motivo para uma recusa política, mas muitos ainda preferem prejudicar o país, as pessoas e o estado, provavelmente açodados por uma perspectiva reacionária e rançosa contra a promessa real de colocar o país em evidência mundial graças à sua capacidade criativa, produtiva e de resistência às crises.

A raiz do problema está exatamente na impotência flagrante desta vertente política conservadora que reúne caciques de MG, SP, PR (zona de concentração) e que teima em permanecer sob a égide das ditaduras e dos preconceitos. Contra o progresso, contra a marcha popular que quer o amanhã, o novo dia, não há força que resista!